“Todos os movimentos transformadores da história foram sustentados e incentivados pela advocacia”, diz, aos 88 anos, o advogado Luiz Basílio



 

 

O advogado Luiz Antônio de Souza Basílio é um exemplo de vitalidade. Aos 88 anos de idade, 60 de profissão, ele comemora mais um Dia da Advocacia sem intenção de se aposentar.

Nesta entrevista, o veterano advogado – que atua em seu escritório no centro de Vitória na área empresarial e também nas causas cíveis e de direito constitucional – fala sobre como era exercer a profissão no início de sua carreira, sobre a importância da advocacia no mundo inteiro e também sobre a solução para que acabem os pedidos pela volta da ditadura.  

 

– Que diferenças o senhor vê do início da sua carreira como advogado para agora?

Eu considero que há diferenças marcantes, mas eu devo afirmar que essas diferenças não trabalham no sentido de exclusão, ao contrário, eu acho que a caminhada anterior se soma à caminhada atual, que irá se somar a caminhadas futuras. O que eu observo que eu vivenciei é que todas essas caminhadas são trabalhosas, em determinadas circunstâncias elas são perigosas, na minha vivência elas foram dificílimas, os perigos eram de certa forma acentuados e até amedrontadores. Mas tudo isso se compõe, isso é uma sinfonia de responsabilidade de todos os advogados para nós construirmos aquela sociedade que nosso povo merece e que é um anseio que extrapola até o pleito apenas do nosso povo. A realização do nosso País como um protagonista no contexto internacional é uma perspectiva que será aplaudida pela comunidade internacional.

– Quando o senhor diz que era amedrontador exercer a advocacia, era em que sentido? Ameaças? As prerrogativas não eram respeitadas?

 Eu vou sintetizar isso com uma experiência pessoal e profissional. Eu recebi ordem de prisão dentro de uma corporação militar do Espírito Santo pelo comandante daquela corporação. Não vou mencionar o porquê, pois havia de certa forma envolvimento profissional...

– Foi no período da ditadura?

Foi rigorosamente no período da ditadura...

O senhor tem quantos anos de advocacia?

Eu tenho 88 anos de idade e tenho 60 anos de advocacia.

– O senhor participou da Semana da Advocacia 2018. Logo no começo da sua carreira havia encontros como esse, em que vocês pudessem debater?

Acontecia sim. A promoção de todos os eventos que pudessem reunir, congregar, patrocinar ideias, ela vem desde o passado e acho que isso faz parte da nossa história e é responsabilidade dos administradores da OAB no seu devido tempo, em seu respectivo mandato. Eu atuei muito na Seccional do Espírito Santo, mas atuei muitíssimo também no Conselho Federal. Eu fui vice-presidente do Conselho Federal e fui conselheiro federal por incontável número de anos. Nesta atividade, eu percorri todo o País e pude constatar com muita alegria que a nossa advocacia está federalizada. Está presente, atuante, em todas as unidades da federação.

– Se o senhor pudesse dar um conselho para a jovem advocacia, para quem está começando agora, o que o senhor diria?

Eu diria o seguinte: na verdade, nós temos uma caminhada que acompanha uma senoide. Então há períodos em que subir, percorrer na subida a curva da senoide, a subida às vezes é penosa, mas isso faz parte. Nós temos que estar preparados para este enfrentamento. A advocacia universal nunca teve como percurso a mesma reta, ou uma ascensão muito leve.

Toda a advocacia internacional nas suas histórias teve que suportar o enfrentamento. Todos os movimentos políticos, sociais, transformadores da história dos homens e das mulheres foram sustentados, patrocinados, incentivados, mentalizados pela advocacia universal. Todos com muita luta e com muito sacrifício.

– Como o senhor avalia esses arroubos de uma parte da população que fica pedindo pela volta da ditadura?   

Eu faço a minha crítica na medida da minha atuação, mas eu compreendo isso em decorrência do perfil da sociedade. Na nossa sociedade, nós temos que continuar trabalhando muito, trabalhando firme, com muito amor para nós obtermos o avanço da sociedade como um todo, porque só com o avanço educacional, só com o avanço intelectual, é que você consegue com resultado enfrentar essa situação.

Se nós não chegarmos a patamares educacionais, históricos, sociais, sociológicos, nós vamos continuar nos cobrando desse tipo de manifestação porque quando ela aparece, e é bom que ela apareça e exploda como uma patologia da sociedade, é bom para nós dimensionarmos e verificarmos o que temos que fazer.  

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